Temos um feriado no horizonte. Ou melhor, temos meio feriado. Pseudoférium. Uma entidade do calendário nacional que, a depender da cidade onde você nasceu, vira descanso celestial ou um expediente com gosto de trairagem: Corpus Christi.
Sim, essa data católica do tapete de serragem e das ruas coloridas, que junta fé, arte e uma vontade coletiva de enforcar a sexta-feira, é feriado em algumas capitais, ponto facultativo em outras e… “dia útil comum” onde falta amor no coração do RH.
E é aí que o brasileiro sofre. Porque o Corpus Christi é o gaslighting do calendário. Uma hora te promete descanso, na outra te diz “você entendeu errado, era só ponto facultativo”. Você se programa pra viajar, mas descobre que sua cidade não aderiu e agora vai ter que fazer home office de mochila e raiva.
E o mais cruel? O 19 de junho cai numa quinta-feira. É o feriado que sussurra: “vem, vem fazer um feriadão”. Mas depende de onde você mora — e do humor do prefeito — pra saber se vai curtir sombra e água de coco ou se vai ouvir “cadê o relatório?” com cara de “você não reza nem em velório, quer folgar por quê?”.
Nas cidades que aderem, Corpus Christi é quase Natal. Já nas que ignoram, é tipo aniversário de ex: você lembra, mas finge que não significa nada.
E ainda tem a desigualdade mística: em Belém é feriado, em São Paulo é feriado, mas no Rio? Ponto facultativo. A fé no Sudeste é proporcional à quantidade de padaria por bairro.
Enfim, Corpus Christi é isso: o feriado mais instável do país. Não é feriado nacional, mas todo mundo trata como se fosse. Um dia de “fé opcional”, “feriadão negociável” e “descanso que depende do CEP”.
Se você é um dos sortudos que vai enforcar, parabéns. Aproveite. Faça um tapete, tome um vinho, durma até meio-dia. Agora, se você vai trabalhar… lembre-se: Jesus carregou uma cruz. Você carrega o boleto. Fé é isso aí também.