19 de novembro chegou.
E com ele, mais um daqueles dias comemorativos que ninguém sabe se celebra, ignora ou usa como desculpa para postar foto fazendo churrasco com legenda “homem raiz”.
Sim, senhoras e senhores: é o Dia Internacional do Homem.
Não confundir com o Dia do Homem brasileiro, aquele de julho, que nasceu oficialmente como… piada. Talvez a única data do calendário nacional criada numa mesa de bar e que sobrevive até hoje — o que, convenhamos, combina muito com o tema.
O dia nasceu em Trinidad e Tobago, mas poderia ter nascido em qualquer churrascaria
A origem é até bonita: homenagem ao pai do criador da data e à classificação histórica da seleção local para a Copa. Uma mistura de afeto paternal com futebol. Não existe síntese mais masculina do que essa.
Mas o curioso é que o Dia Internacional do Homem virou um negócio completamente diferente na internet. A data, que existe para falar de saúde, masculinidade positiva e igualdade, acabou sequestrada pelo arquétipo que mais domina as redes:
o “homem raiz”.
Aquele que:
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abre garrafa no dente,
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usa a mesma toalha desde 2014,
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não vê médico desde o impeachment da Dilma,
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acha que terapia é para quem não tem “objetivo na vida”,
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e que acredita genuinamente que desodorante 48h dura 72.
“Homem raiz”: o retorno do que nunca foi embora
A discussão voltou a bombar nas redes — como sempre, com muita masculinidade e pouca saúde.
Enquanto especialistas tentam falar de câncer de próstata, prevenção, autocuidado e saúde mental, o Twitter (desculpe, X) está ocupado debatendo se homem pode ou não usar hidratante.
A internet fez do Dia Internacional do Homem uma espécie de comic-con do macho rústico.
De um lado, gente defendendo o “homem raiz” porque “hoje em dia tudo tá muito sensível”.
Do outro, gente lembrando que homens vivem menos justamente porque passam a vida competindo para ver quem é o mais durão, o mais fechado, o mais resistente — e o mais relutante em marcar um check-up.
No meio disso tudo, o Novembro Azul tentando gritar:
“Ei! Não é só sobre meme de caminhoneiro emocionado! É sobre prevenção, p***!”*
Mas claro, ninguém ouve.
O dia não é feriado — e ainda bem
Imagine se fosse feriado.
Metade dos homens passaria o dia dizendo “feriado é coisa de vagabundo”;
A outra metade fingiria que descansou, mas estaria no sofá com lombar travada porque se recusa a admitir que precisa fazer alongamento.
Os 5 pilares do Dia Internacional do Homem — traduzidos para o português sincero
A data tem objetivos sérios. Muito sérios. Talvez sérios demais para um país onde “ir ao médico” ainda é considerado prova definitiva de fraqueza. Vamos interpretá-los:
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Promover modelos positivos de masculinidade
(Homens que conversam, cuidam da saúde e tratam as pessoas bem — não só os que gritam no trânsito.) -
Celebrar contribuições masculinas para a sociedade
(Sim, você que troca galão de água para sua avó também conta.) -
Focar no bem-estar masculino
(Sim, isso inclui parar de fingir que dor no peito é “gases”.) -
Destacar discriminação contra homens e meninos
(Mas não do jeito que coach de masculinidade fala. Do jeito que estudos mostram.) -
Criar um mundo mais seguro e justo
(Começando por guardar o ego na gaveta.)
Um resumo triste que parece piada — e talvez seja
Enquanto o Dia da Mulher existe há mais de um século, o Dia do Homem passou décadas sendo testado, cancelado, reiniciado, ignorado e ressuscitado, como se fosse um Windows 98 tentando rodar em 2025.
Mas agora ele está aí, firme, presente, e ganhando relevância mundial.
E se tem um recado que a data tenta repetir todos os anos — e que os homens fingem que não é com eles — é este:
Ser homem não vem com manual, mas vem com consequências.
E ignorar a saúde é a principal delas.
Então parabéns pelo dia.
Aproveitem.
E, quem sabe, marquem aquela consulta atrasada de 2017.
É o mínimo.

