Tem jogo que vale mais do que três pontos. Vale como remédio de tarja preta para um time que parecia preso no divã, deitado no couro do psicólogo, repetindo: “não sei mais ganhar, doutor.” Pois bem, contra o Mirassol, o Atlético-MG trocou o choro de Hulk no banco por suor, defesa suada e um Everson transformado em muralha medieval. Resultado: 1 a 0 sofrido, mas com cheiro de sessão de cura.
Sampaoli, sempre fiel ao personagem de cientista maluco do futebol, resolveu brincar de Lego com a escalação. Deixou Hulk, Arana e Scarpa sentados, talvez para ensinar que estrela também precisa esperar sua vez na fila do pão. E não é que deu certo? Bernard correu como se tivesse voltado dez anos no tempo, Biel se multiplicou em dois e até o jovem Caio quase deixou sua marca.
O gol saiu daquele jeito que treinador adora dizer que “foi ensaiado”: escanteio, casquinha na primeira trave, cabeçada de Vitor Hugo. 1 a 0 e a Arena MRV gritando como se fosse final.
Mas o Galo é o Galo. E se não sofrer, não é Atlético. Antes do intervalo, Junior Alonso resolveu testar a firmeza do VAR com uma cotovelada desnecessária. Expulsão justa, mudança tática imediata e a certeza: o segundo tempo seria um calvário.
E foi. O Mirassol, que até então parecia turista em Belo Horizonte, decidiu jogar. Chutou, cabeceou, tentou de todo jeito. Mas encontrou Everson em modo Buffon encarnado. Defendeu bola de perto, de longe, de dentro da área e até de pensamento. Fechou o gol como se quisesse pedir aumento na coletiva.
Do outro lado, Hulk virou a estrela mais barulhenta da noite sem nem entrar em campo. Ganhou cartão no banco, chorou contra a arbitragem e saiu suspenso. É quase poesia: até quando descansa, o camisa 7 arruma encrenca.
O apito final veio com sabor de alívio. Não foi espetáculo, mas foi catarse. A torcida vibrou, o elenco falou em “virada de chave” e Sampaoli comemorou como se tivesse inventado o futebol de novo.
O Atlético venceu. Mais do que isso: sobreviveu. E no Brasileirão, muitas vezes, é disso que se trata — ganhar feio, com um a menos, com goleiro salvando e craque resmungando no banco.
Porque o Galo, convenhamos, nunca gostou de vencer em paz. A vitória sempre vem com drama, suor e, claro, crônica pronta para a próxima rodada.