O Ceará esperou uma década inteira para vencer o São Paulo no Morumbi. Dez anos. Em 2015, a gasolina estava a R$ 3,50, o Neymar ainda fingia que jogava sério no Barça, e o São Paulo já ensaiava a especialidade que hoje domina: entregar vexame em casa.
Pois bem, o tabu caiu. E não caiu com uma virada heroica no último minuto, nem com um baile de encher os olhos. Caiu com um 1 a 0 pragmático, seco, econômico — do jeito que só quem passou a vida inteira levando pancada sabe valorizar. O gol de Pedro Henrique foi daqueles que não saem em coletânea de fim de ano, mas que viram tatuagem no braço de torcedor alvinegro.
Enquanto isso, o São Paulo segue fiel à sua nova identidade: o time que gosta de transformar o Morumbi num Airbnb para visitantes azarões. Já perdeu a aura de “imprensar adversário em casa” há muito tempo. Hoje, o Tricolor serve como spa de confiança para quem anda mal no campeonato.
Mas o Ceará não tem nada a ver com isso. O Vovô jogou com a maturidade de quem sabe que tabu não se quebra com firula, mas com suor, disciplina e — claro — a generosidade habitual da defesa são-paulina. Léo Condé fez suas substituições como quem troca a pilha do controle remoto: simples, mas eficaz. Tirou quem estava apagado e colocou quem tinha gasolina. Resultado? Gol, tabu quebrado e mais um capítulo no calvário tricolor.
O que fica da noite é simbólico: o Ceará lavou a alma, mostrou que não é figurante no Brasileirão e que pode sonhar mais alto. Já o São Paulo… bem, o São Paulo segue sendo aquilo que já virou rotina: um grande clube que adora bancar o Robin Hood às avessas — tira dos próprios torcedores e dá para o adversário.
No fim, o Morumbi foi palco não de tragédia, mas de comédia: o Ceará fez história, e o São Paulo fez o que sabe melhor — crise.