O Brasil finalmente decidiu aplicar um método milenar contra parasitas políticos: uma dose só. Uma ferroada. Uma picada. Cinco anos e tchau. Isso mesmo. Com o fim da reeleição aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o Congresso parece ter entendido que o problema da política brasileira não é falta de tempo no cargo — é falta de vergonha na cara mesmo.
Agora, o mandato vira de quatro para cinco anos, com a justificativa brilhante de que “assim o eleito tem mais tempo pra trabalhar”. Traduzindo: um ano pra prometer, três pra viajar e um pra empurrar com a barriga. O bom e velho “agora vai” estendido por 12 meses a mais.
Mas calma, que a lambança é completa: a PEC unifica tudo! A partir de 2034, teremos um carnaval político de cinco em cinco anos. Votaremos para vereador, prefeito, deputado, senador, presidente, governador e quem sabe síndico do prédio — tudo no mesmo domingo. Um combo eleitoral que vai fazer a urna eletrônica pedir arrego e o eleitor desejar nunca ter aprendido a ler.
É claro que isso vai “baratear o processo”. Segundo os senadores, vamos economizar bilhões com menos eleições. Mas você sabe como é: o Brasil não economiza, ele reinveste a burrice. O que se poupa na eleição vai parar no fundo partidário, na verba de gabinete, ou em contratos de impressão de cartilhas educativas sobre como não roubar (financiadas por quem já roubou).
E não pense que essa mudança é sinal de nobreza. O fim da reeleição não nasceu de uma crise ética repentina entre os nossos parlamentares. Nada disso. Foi só uma troca de garantias: agora que não podem repetir o mandato, eles ampliam o tempo do poder e garantem todo mundo no mesmo ciclo — um linchamento eleitoral sincronizado.
Mas e os senadores? Antes eram oito anos, agora caíram pra cinco. Coitados, vão ter que trabalhar mais rápido pra garantir os esquemas, os nomes nos outdoors e os contratos de gráfica das emendas parlamentares. Agora, terão menos tempo pra fazer o que sempre fizeram: quase nada com muito dinheiro.
O brasileiro que lute. Porque o que antes era um trauma a cada dois anos — escolher entre o menos sujo, o mais simpático ou o que erra menos o português — agora será uma provação quinquenal. Em 2034, todos os políticos do país baterão na sua porta ao mesmo tempo, como um Halloween do inferno pedindo voto em vez de doce.
E pra quem acha que isso vai resolver a crise de representação, aviso: não é mudando o rodízio de políticos que a comida melhora, é trocando a cozinha inteira.
No fim das contas, não se trata de evitar reeleição. Se trata de evitar eleição ruim. E pra isso, meu caro, não tem PEC que resolva. Só um povo mais exigente e menos esquecido. Mas enquanto isso não acontece, vamos celebrando: menos reeleição, mais criatividade na hora de prometer o impossível.
Cinco anos de mandato. Um país inteiro de ressaca.
Se te consolam, em 2034 a gente vota em todo mundo de uma vez. E aí sim, o erro será coletivo, integral e intransferível.