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Crônica: Quando os EUA viram síndico do planeta

A cena é tão ridícula que parece saída de um roteiro rejeitado do South Park: a Casa Branca anuncia que está disposta a usar meios militares contra o Brasil porque… o Brasil está julgando um cidadão brasileiro dentro das suas próprias leis. Sim, caros leitores: agora os Estados Unidos querem meter tanque de guerra em Brasília para “proteger a liberdade de expressão”.

Só que tem um detalhe pequeno, quase irrelevante: o “cidadão brasileiro” em questão é Jair Messias Bolsonaro. O mesmo que, ao perder a eleição, resolveu brincar de Age of Empires no Planalto e quase conseguiu dar um CTRL+ALT+DEL na democracia. Mas para Trump e companhia, isso não importa. Afinal, liberdade de expressão, no manual deles, inclui até a liberdade de tentar um golpe — desde que seja contra um governo que eles não gostam muito.

Imagina a cena: o STF votando, Alexandre de Moraes ajeitando a careca para dar sentença, e de repente um míssil cruzando os céus de Brasília com a bandeira dos EUA estampada. Não para proteger petróleo, nem para salvar uma democracia amiga, mas para garantir o direito sagrado de Bolsonaro fazer live comendo pão com leite condensado.

É aí que o enredo escancara o nível do absurdo: os EUA, país que prende manifestante que ergue cartaz em frente à Casa Branca, querem dar aula de liberdade de expressão. O mesmo lugar onde se proíbe TikTok, mas se autoriza adolescente comprar fuzil no Walmart. A lógica é simples: liberdade, sim — mas só a deles.

E como se não bastasse, a porta-voz ainda jogou o mantra patriótico: “Trump não tem medo de usar meios militares”. Ah, que novidade! Os EUA nunca tiveram medo de usar meios militares. Do Vietnã ao Iraque, passando por meia dúzia de países que nem sabiam que estavam em guerra, eles sempre encontram uma desculpa. Agora, a desculpa é… Bolsonaro. A história realmente não tem pudor de virar farsa.

E nós aqui, brasileiros, ficamos com a dúvida: se até os EUA querem salvar Bolsonaro, será que a gente perdeu a piada? Porque, convenhamos, só quem ainda leva o “mito” a sério é quem acredita em PowerPoint de golpe com slide mal feito.

No fim, essa ameaça toda é menos sobre “liberdade de expressão” e mais sobre poder. É o Tio Sam batendo na mesa, dizendo: “se não fizerem como eu quero, mando o porta-aviões”. Mas sejamos francos: se a democracia brasileira resistiu a gabinete do ódio, motociata e hino cantado desafinado em cercadinho, não vai ser um tweet belicoso da Casa Branca que vai derrubar.

E se Trump realmente quiser mandar soldados, que se prepare: aqui não tem Vietnã nem Iraque. Tem mineiro comendo pão de queijo, tem baiano deitado na rede e tem carioca perguntando se vai ter “after” depois da guerra. Aí quero ver o exército deles segurar.