177 mil famílias estão sendo notificadas para devolver o valor que receberam durante a pandemia. Porque, aparentemente, agora é cada um por si e o PIX contra todos.
A crise passou (só que não), o desemprego diminuiu (em outra dimensão) e a pandemia virou passado (ou virou série da Netflix). E como todo bom enredo brasileiro, agora vem o plot twist: o governo quer o dinheiro de volta. Isso mesmo. Mais de 177 mil famílias estão recebendo notificações para devolver o Auxílio Emergencial pago durante o caos sanitário de 2020 e 2021.
A conta? Quase meio bilhão de reais. Ou, se preferir: R$ 478,8 milhões, o que daria para construir uns estádios, pagar uns auxílios-caviar ou cobrir algumas diárias de deputado em Dubai. Mas não, a prioridade é fazer gente que sobreviveu com arroz, ovo e esperança pagar a conta.
Quem precisa devolver?
Você, trabalhador que estava com carteira assinada, mas mesmo assim caiu num dos critérios duvidosos de cadastro e recebeu R$ 600 durante o auge do apocalipse sanitário, parabéns! Agora o governo te quer de volta – não o seu abraço, só seu dinheiro.
A cobrança vale para quem:
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Tinha emprego formal (mesmo ganhando um salário-mínimo-que-mal-dá-pra-sobreviver),
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Já recebia benefício previdenciário (porque aposentado também não pode viver duas vezes),
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Ou tinha renda familiar “acima do limite legal” — um conceito misterioso que parece incluir qualquer família com geladeira funcionando e Wi-Fi pago.
Mas calma, há exceções. O governo, generoso como sempre, não vai cobrar:
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Quem está no Bolsa Família ou Cadastro Único,
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Quem recebeu menos de R$ 1.800 no total,
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Quem vive com até dois salários mínimos por cabeça — ou seja, metade da população que come miojo com farinha.
E se não pagar?
Ah, aí vem a parte divertida: você entra na Dívida Ativa da União, no Cadin, e ainda pode ser negativado. É tipo um cartão fidelidade do caos financeiro. Perde crédito na praça, fica com o nome sujo e ainda ganha um sentimento agridoce de nostalgia da época que pelo menos você conseguia comprar pão com o Auxílio.
Como pagar esse carinho governamental?
O pagamento deve ser feito em até 60 dias após a notificação. E o governo jurou de pé junto que está facilitando a vida:
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Dá pra pagar via Pix, cartão de crédito ou boleto.
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Pode parcelar em até 60 vezes (ou seja, 5 anos lembrando todo mês da pandemia).
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A parcela mínima é de R$ 50. Um jantar de fast food ou o custo do arrependimento?
Tudo isso pelo sistema Vejae no site do MDS. Um nome que, convenhamos, soa mais como ameaça passivo-agressiva: “Veja aí o que você aprontou!”
Ah, e cuidado com os golpes!
Sim, os golpistas reais agora competem com os golpes oficiais. O MDS informa que não envia boletos, nem links mágicos por SMS ou WhatsApp, então se algum “consultor” de Brasília aparecer pedindo pagamento via chave aleatória tipo governohonesto123@pix.com, desconfie.
Conclusão: a fatura chegou, e não tem cashback
Depois de dois anos de pandemia, de sobreviver ao caos, à fila do hospital e à fila do Caixa Tem, agora chegou a vez do povo devolver o favor. Literalmente.
Nada mais poético do que o Brasil cobrar de quem menos tem. Um país em que o senso de justiça social é tão afinado que quem recebeu R$ 600 para comprar comida agora deve devolver para financiar o orçamento secreto 2.0.
Então, se você recebeu Auxílio sem “ter direito”, prepare-se: o governo está batendo na sua porta. Mas dessa vez não com cesta básica, e sim com a maquininha de cartão.