A série Tremembé, recém-lançada pelo Prime Video, está chamando atenção do público por retratar a rotina do chamado “presídio dos famosos”, o Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo. A produção mistura acontecimentos reais com elementos ficcionais para contar histórias de detentos que chocaram o país, como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, os irmãos Cravinhos, Alexandre Nardoni e Roger Abdelmassih.
Mas até onde vai a realidade e onde começa a licença poética da dramaturgia?

O que é verdade em Tremembé?
Apesar de parecer surreal em vários momentos, muitos dos acontecimentos mais chocantes da série são confirmados como reais. Os criadores se basearam principalmente nos livros-reportagem “Suzane: Assassina e Manipuladora” (2020) e “Elize Matsunaga: A Mulher que Esquartejou o Marido” (2021), do jornalista Ulisses Campbell. Ambos foram adaptados com liberdade narrativa, mas com base em extensas investigações e entrevistas dentro da penitenciária.
Veja alguns fatos verídicos retratados na série:
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Suzane realmente foi transferida para Tremembé após uma rebelião em Ribeirão Preto.
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O romance entre Elize, Suzane e Sandrão existiu, ainda que com menos drama do que mostrado.
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A entrevista concedida a Gugu é real e gerou grande repercussão na época.
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Suzane trabalhou na costura da prisão, virou evangélica e teve relacionamentos amorosos durante o cumprimento da pena.
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O médico Roger Abdelmassih fingiu problemas de saúde para ser transferido.
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Daniel Cravinhos se casou com Alyne Bento, personagem fictícia “Celina” na série.
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Crimes como o de Elize, os Nardoni e Abdelmassih foram reconstituídos com base em depoimentos oficiais.
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A série passou por uma consultoria jurídica para evitar problemas com os retratados e suas famílias.
E o que é invenção ou dramatização?
A série se vale de recursos dramáticos para criar fluidez narrativa e gerar impacto emocional, como:
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Ordem dos eventos alterada para aumentar o suspense ou dar ritmo à história.
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Diálogos e interações foram recriados com base em depoimentos reais, mas não são transcrições literais.
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O modo como Suzane e Elize se conhecem na série não corresponde exatamente à realidade.
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Conversas entre os irmãos Cravinhos foram roteirizadas, embora inspiradas em situações reais.
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Alguns nomes foram alterados para proteger identidades — o parceiro de Cristian Cravinhos, chamado “Duda” na série, se chama na verdade Ricardo de Freitas Nascimento.
Verdade + Ficção: a mistura do true crime com a dramaturgia
A diretora geral, Vera Egito, afirmou que os roteiristas buscaram respeitar os fatos, mas estruturaram a história para que o público pudesse acompanhar uma narrativa com começo, meio e fim. Assim, a série não é um documentário, e sim uma obra de ficção baseada em fatos.
Essa abordagem permite que a produção explore os aspectos humanos, as tensões e as relações dentro da penitenciária com mais liberdade, sem deixar de lado o impacto social que os crimes causaram no imaginário popular brasileiro.

Conclusão: por que Tremembé fascina tanto?
A mistura entre realidade e ficção é justamente o que torna Tremembé tão instigante. A série cutuca nossa curiosidade mórbida, mas também levanta questões importantes sobre o sistema prisional, a espetacularização da violência e o papel da mídia na construção da fama de criminosos.
Ao revelar o que é real e o que é inventado, Tremembé nos lembra que, na vida real, o horror muitas vezes não precisa de retoques de roteiro para ser ainda mais perturbador. E que o Brasil, definitivamente, não perde em nada para nenhuma série de crime internacional quando o assunto é surrealismo jurídico e drama carcerário.

