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Crônica: Atlético-MG 1 x 1 Cruzeiro — o Galo de Sampaoli, a cara do controle… e do desperdício

O clássico mineiro da rodada 28 foi o retrato perfeito do Atlético de Jorge Sampaoli: um time intenso, dominador, cheio de energia e ideias… mas que na hora H troca o brilho pela confusão, o domínio pela ansiedade e o controle pela falta de pontaria.

Foi o melhor primeiro tempo do Galo em muito tempo. E, paradoxalmente, o mais frustrante.

Desde o apito inicial na Arena MRV, o Atlético fez o que se espera de um time de Sampaoli: subiu as linhas, engoliu o Cruzeiro na saída de bola, pressionou como um time que não aceita respirar o mesmo ar do adversário. Dudu e Arana criaram uma avenida pela esquerda, Bernard rodava como maestro e o Cruzeiro parecia uma sombra — uma equipe convidada a participar do jogo, mas sem direito à bola.

O problema é que o domínio tático não paga as contas do placar.
O Galo teve posse, triangulação, recuperação alta, mas faltou o essencial: acertar o gol.

Enquanto o time tocava bonito, o torcedor roía as unhas. Era o Atlético versão “Netflix europeia”: belo de assistir, mas sem final feliz.

E o futebol, como sempre, cobra caro por desperdício.
Logo no início da segunda etapa, Menino resolveu improvisar uma saída de bola criativa — e entregou um presente para Kaio Jorge, que serviu Matheus Pereira para abrir o placar. Um balde de água fria em um time que, até ali, parecia pronto para vencer por 3 a 0.

Mas se o Galo tem um talento especial para complicar o que é simples, o Cruzeiro não ficou atrás: dois minutos depois, Tressoldi cabeceou o empate e, no lance seguinte, Kaio Jorge conseguiu ser expulso antes mesmo do jogo recomeçar. Um roteiro que nem o Sampaoli imaginaria em seus dias mais caóticos.

Com um a mais, o Atlético montou um cerco. Scarpa ameaçou de fora, Dudu acertou a trave, o estádio pulsava… mas aí veio o momento em que o treinador decide provar que pensa diferente de todo mundo.
Tirou Dudu, o mais perigoso em campo, e o time simplesmente apagou.

O Cruzeiro, que parecia prestes a derreter, respirou. Fechou as linhas, recuou, administrou e, no fim, saiu comemorando o empate como vitória.

Já o Galo deixou o campo com aquele gosto conhecido de “quase”.
Foi dominante, mas ineficiente. Corajoso, mas previsível. E, acima de tudo, Sampaolista até o último segundo: intensidade máxima, mas equilíbrio mínimo.

O empate, no papel, não é tragédia. Mas é sintomático.
Mostra que o Atlético, mesmo jogando melhor, ainda não aprendeu a transformar volume em resultado — a doença crônica dos times de Sampaoli desde que o futebol é futebol.

No fim, o clássico foi um espelho: de um lado, o Cruzeiro pragmático, que sobreviveu à base da resistência; do outro, o Atlético estético, que sufoca o adversário, mas também a si mesmo.

E no meio disso tudo, o torcedor alvinegro, dividido entre a esperança e o cansaço, perguntando o que todo atleticano se pergunta desde 2021:

“Quando é que esse time bonito vai, de fato, começar a ganhar?”