Em um país em que faltam leitos, transporte e bom senso, Belo Horizonte decidiu inovar na agenda pública: agora, além de buraco na rua e trânsito no Anel Rodoviário, a capital mineira também tem o Dia da Fidelidade Conjugal e do Casamento Monogâmico Cristão. Sim, o nome é real — e tem tantas palavras quanto uma DR de casal.
A proposta é do vereador Neném da Farmácia (Mobiliza), que, aparentemente, olhou em volta, viu a situação da cidade e concluiu: “O problema aqui não é o transporte, nem a saúde, nem o custo de vida. É o adultério”.
E lá foi o projeto, votado, aprovado e sancionado pelo prefeito Álvaro Damião, que agora pode se orgulhar de governar a primeira capital do país com política pública voltada à monogamia. Uma vitória histórica da bancada “não é traição, é tentação”.
💍 Um decreto de fé — e de ironia
Segundo o texto, a data de 18 de maio vai celebrar os “valores conjugais que sustentam as famílias de Belo Horizonte”. É bonito, é simbólico, e é absolutamente inútil.
Nada contra quem acredita no amor eterno — que, em tempos de aplicativo de relacionamento, é quase uma ficção científica. O problema é transformar esse ideal em lei municipal, como se fidelidade fosse um item de orçamento público ou um programa social do tipo “Minha Aliança, Minha Vida”.
Enquanto o resto do país luta por creches, moradia e segurança, a Câmara de BH dedica tempo para discutir a monogamia cristã. E o curioso é que o projeto foi aprovado sem risadinhas — o que talvez seja o aspecto mais preocupante de todos.
🏛️ A moral de gabinete
O autor da lei, Neném da Farmácia, declarou que o objetivo é “dar visibilidade aos valores conjugais” e promover o respeito mútuo. É aquele tipo de argumento que parece saído de um grupo de WhatsApp de tios conservadores em modo caps lock.
Porque, convenhamos: se dependesse de feriado, o Brasil já seria o país mais fiel do mundo.
Tem dia da Bíblia, dia da Família, dia do Pastor, dia do Orgulho Hétero — e, agora, o dia do “fica comigo senão viro pauta de Câmara Municipal”.
🫶 O amor como política pública
Imagine o marketing da Prefeitura:
“Prefeitura de Belo Horizonte — construindo pontes, tapando buracos e salvando casamentos desde 2025.”
E o mais surreal é pensar nas possíveis consequências administrativas:
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Será que vai ter cartório itinerante oferecendo aconselhamento conjugal gratuito?
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Casais que resistirem 10 anos sem traição terão direito a isenção do IPTU?
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O infiel reincidente perde o Passe Livre?
A criatividade é infinita quando o Estado decide legislar sobre o coração alheio.
💔 BH entre o sagrado e o meme
Enquanto o Brasil desce a ladeira da seriedade, Belo Horizonte acelera com estilo. A cidade que já nos deu boteco, pão de queijo e Lô Borges, agora entrega também uma joia da burocracia afetiva.
No fundo, a nova data é o retrato perfeito da política brasileira: um país que acha que pode resolver questões complexas com leis simbólicas, moralismo performático e muito “amém”.
E no fim das contas, todo mundo sabe o que vai acontecer no dia 18 de maio:
Os casados vão fingir que lembraram da data, os solteiros vão rir no Twitter, e os vereadores vão se parabenizar por “defender a família”.
O resto da população?
Vai continuar tentando ser fiel — não ao cônjuge, mas à realidade.
Porque, em 2025, isso sim virou um desafio monogâmico.

