Donald Trump, esse gênio incompreendido da medicina caseira e do WhatsApp, decidiu ontem que o autismo pode ser resultado do uso de Tylenol na gravidez. Sem provas, sem estudos robustos, sem nada além do eterno superpoder de falar qualquer coisa em voz alta e ver uma parte da população aplaudir como se fosse revelação divina.
“Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom”, declarou o presidente, como se estivesse narrando um episódio de The Apprentice e não comentando sobre saúde pública mundial.
Trump ainda aproveitou para bancar o Dr. Oz laranja e sugerir a leucovorina — um medicamento usado em alguns tratamentos de câncer — como possível terapia para autismo. Afinal, quem precisa de décadas de pesquisa científica quando se tem um microfone, um secretário antivacina (Robert Kennedy Jr.) ao lado e a crença inabalável de que a ignorância pode ser política de Estado?
A ciência diz: não, não e mil vezes não
Pesquisadores ao redor do mundo reforçam há anos:
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Autismo é uma condição neurológica com forte base genética.
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Não existe relação comprovada entre vacinas e autismo.
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E não, paracetamol não transforma bebês em autistas.
Mas Trump insiste. Para ele, qualquer revisão acadêmica cheia de asteriscos é suficiente para virar manchete presidencial. Enquanto Harvard fala em “indícios, mas sem prova de causalidade”, Trump traduz para: “Está vendo? Tylenol causa autismo, acorde, América!”.
O preço da desinformação
O risco aqui não é só o vexame mundial de ver o presidente dos EUA transformando coletiva de imprensa em grupo de zap da tia do pavê. É a consequência prática: mulheres grávidas apavoradas deixando de tratar febres que podem provocar aborto ou parto prematuro.
Sim, o homem mais poderoso do mundo pode ter acabado de incentivar, sem perceber (ou sem ligar), decisões que colocam em risco a vida de mães e bebês. Mas quem se importa, não é mesmo? O importante é parecer que “descobriu algo” e posar de inimigo número 1 da Big Pharma — até o próximo cheque de campanha.
Ironia cósmica
Vale lembrar: Trump, que vive de teorias conspiratórias sobre vacinas e remédios comuns, foi o mesmo sujeito que, na pandemia, sugeriu injeção de desinfetante e luz ultravioleta no corpo para curar Covid. Ou seja, se esse governo fosse uma série da HBO, já teria sido cancelada na segunda temporada por excesso de roteiro absurdo.
Bravatas e slogans para salvar vidas
Enquanto a ciência trabalha com dados, revisões e cautela, Trump trabalha com bravatas e slogans. O resultado é um show de horrores em que a medicina se torna palco de palanque eleitoral.
E nós, meros espectadores desse circo global, ficamos entre rir da insanidade ou chorar pelas consequências. Afinal, não é só Tylenol que causa dor de cabeça: Trump no poder também é um analgésico que nunca funciona.