Tem jogos em que o resultado vale mais pela psicologia do que pela tática. Mas, neste sábado, o Corinthians conseguiu unir as duas coisas: ganhou e, de quebra, redescobriu o esquema que o fez sonhar com Libertadores no passado recente. Enquanto isso, o Atlético-MG de Sampaoli parece ter entrado em campo para um simpósio sobre como complicar o simples — e perdeu com justiça por 1 a 0, em Itaquera.
O primeiro tempo começou do jeito que o torcedor corintiano já conhece: truncado, nervoso, e com mais faltas do que passes certos. Foram 18 infrações em 47 minutos, o que, convenhamos, faria inveja a um jogo da Série D em campo esburacado.
Mas aos 30 minutos, Dorival Júnior olhou pro gramado e pensou: “Ou eu mudo isso, ou vou acabar empatando mais um com 0 chutes no gol”. E então veio o renascimento do losango — aquele esquema clássico que deixou saudade em 2024. Raniele virou volante, Bidon e Maycon deram corpo ao meio, e Garro passou a costurar o jogo por trás de Yuri Alberto e Memphis Depay. Resultado? O Corinthians, que até então parecia um samba sem ritmo, virou um pagode bem ensaiado.
O Galo, claro, não entendeu nada. Os encaixes defensivos se perderam, Hulk ficou isolado (de novo), e Biel, o único que ainda parecia lembrar que o objetivo do futebol é atacar, foi o responsável por uma solitária finalização mineira na etapa inicial.
O segundo tempo trouxe um lampejo de emoção — e de ironia. Sampaoli tirou Saravia, o lateral que já parecia cansado de marcar o próprio companheiro, e colocou Natanael, enquanto o Corinthians começou a jogar com uma convicção que não se via há meses. Em jogada trabalhada, Garro, o maestro argentino, encontrou Maycon, que bateu no cantinho e fez o 1 a 0.
A partir daí, o jogo virou um duelo entre o pragmatismo e o caos.
De um lado, um Corinthians organizado, ciente do seu limite e feliz por respirar fora do Z-4. Do outro, um Atlético perdido, com Dudu, Bernard, Arana e Scarpa entrando tarde demais, parecendo todos convidados que chegaram quando a festa já acabou e o bolo estava guardado.
Sampaoli, que costuma usar o manual do improviso como bíblia, terminou o jogo vendo seu time com a criatividade de uma planilha de Excel. O Galo tentou ser ofensivo, mas parecia estar praticando um novo esporte: o “ataque conceitual”, aquele em que ninguém finaliza, mas todos se movimentam lindamente.
Do lado paulista, Depay ainda perdeu gol feito (o marketing agradece, porque o replay é bonito), e Dorival administrou o resultado com substituições seguras — e uma retranca digna de um treinador que sabe que 1 a 0 vale o mesmo que 3 a 0 quando se está flertando com o rebaixamento.
O apito final veio com Itaquera vibrando e o Corinthians respirando.
Sai do sufoco, sobe pro 12º lugar e, quem diria, reencontra um pouco da sua identidade — aquela do time que sofre, mas vence.
O Atlético, por outro lado, parece viver em looping: troca esquema, muda elenco, mas o resultado é o mesmo — um futebol com tanto conceito que esquece o básico.
Em resumo: o Corinthians jogou com humildade e tática. O Galo jogou com nomes e vaidade.
E no futebol, como na vida, é melhor ter um losango funcional do que um triângulo de confusão.

