O alarme soou: “O ChatGPT está nos deixando estúpidos!” — gritou o Tilt, como quem vê alguém tentando colocar ketchup no risoto. E a reação geral? Um coletivo bocejo intelectual, seguido de um “e daí, Chat, como eu respondo essa pergunta mesmo?”
Veja bem: não foi o ChatGPT que nos deixou burros. Ele só chegou pra nos mostrar o quanto já estávamos à vontade na piscina rasa do pensamento. A inteligência artificial não está matando nossa criatividade, nossa memória, nossa capacidade crítica… Ela só acendeu a luz da cozinha às 3 da manhã — e revelou o rato lendo thread no X com a legenda “pior que é verdade 😂”.
Afinal, qual a diferença entre pensar e copiar um textão do Reddit? Pergunte ao coleguinha do ensino médio que responde prova dissertativa com “conforme preconiza Aristóteles em sua obra…”, sem nunca ter preconizado nem o manual da TV.
E agora, com o ChatGPT, virou festa.
“Crie um poema.”
“Resuma Guerra e Paz.”
“Me explica o que é GPT.”
“Me faça um TCC de 40 páginas sobre a filosofia estoica com referências da ABNT e uma pitada de humor.”
Enquanto isso, do outro lado da tela, uma IA trabalhando em tempo integral, enquanto você mal lembra onde fica o Ctrl+C.
O medo, dizem os especialistas, é que a IA nos atropele. Amigo, a IA nem corre. A gente é que deita no chão e pede pra ela passar com carinho. Que atropelo o quê: entregamos o volante, a direção hidráulica e o tanque cheio. E ainda pedimos: “faz a gentileza de pensar por mim enquanto eu abro o TikTok?”
E no fim, alguém solta o clássico argumento:
“Ah, mas o ChatGPT me ajuda a ser mais produtivo!”
Claro. Você agora escreve três e-mails inúteis em vez de um. Entrega relatórios cheios de palavras como “robustez” e “ecossistema de soluções”, que ninguém vai ler. Mas você se sente um CEO do século XXI — pilotando sua própria irrelevância com um copiloto digital.
A questão nunca foi “o ChatGPT está nos deixando burros?”.
A pergunta certa é: a gente ainda lembra como era ser ligeiramente inteligente sem ele?
Se um dia a IA for desligada, restarão humanos batendo cabeça tentando lembrar o nome do presidente do Brasil ou como se soma fração. E aí, talvez, só talvez, alguém diga:
“Será que a gente não devia ter pensado um pouco mais… por conta própria?”
Mas aí é tarde. A tomada foi puxada. E você não sabe nem onde fica a biblioteca.