Foram 23 segundos.
O tempo de abrir a cerveja, ajeitar o corpo no sofá e o Atlético-MG já estava na frente.
Um gol tão rápido que parecia até um pedido desesperado do elenco: “pelo amor de Deus, deixa a gente respirar antes da Sul-Americana”.
O 1 a 0 sobre o Ceará, em casa, foi menos um espetáculo e mais uma terapia em grupo.
O Galo não jogou bonito, não empolgou, mas fez o que mais precisava no momento: vencer.
E se o futebol fosse uma sessão de análise, Jorge Sampaoli sairia satisfeito por ter reencontrado — ainda que por acidente — uma coisa chamada alívio.
⚡ 23 segundos de lucidez
Tudo começou com Scarpa, que mandou um lançamento cirúrgico para Dudu, que, por sua vez, cruzou rasteiro para Alan Franco bater de chapa no canto.
Era o Galo versão speedrun, resolvendo o jogo antes que o Ceará entendesse o que estava acontecendo.
Parecia o prenúncio de uma goleada. Parecia.
Depois do gol, o time entrou em modo avião.
Sampaoli deve ter olhado para o relógio e pensado: “Se der pra encerrar o jogo aqui, a gente aceita”.
O Atlético trocava passes como quem mata o tempo numa fila de banco, e o Ceará começou a acreditar que dava.
A partir daí, o protagonista mudou: Everson, que mais uma vez segurou o resultado com defesas de goleiro campeão e semblante de quem pensa “não vai ser hoje que vou passar raiva com vocês”.
🧠 Sampaoli e o xadrez emocional
Sampaoli, sempre com sua prancheta de física quântica, armou um 5-4-1 que virava 3-2-4-1 que virava “seja o que Deus quiser”.
Natanael começou de lateral-volante, Biel de ponta-meia, Arana de reserva-reflexão.
Nada fazia muito sentido, mas, por incrível que pareça, funcionou — até parar de funcionar.
O Ceará teve 16 finalizações.
O Galo teve uma: a do gol.
E assim mesmo, o técnico argentino deve ter voltado pra casa satisfeito, murmurando algo como:
“O importante é o conceito”.
😮💨 Um respiro antes do juízo final
O resultado, magro e sofrido, vale ouro.
O Galo chega aos 36 pontos, se afasta do Z-4 e pode, enfim, pensar no jogo que define o ano: a semifinal da Sul-Americana, terça-feira, contra o Independiente del Valle.
É mais do que um jogo.
É o bilhete de volta à Libertadores, a tábua de salvação financeira e o teste final de paciência para a torcida que ainda tenta entender o que, afinal, é o “projeto Sampaoli 2.0”.
Porque se o time repetir o ritmo de hoje — um gol relâmpago e 89 minutos de sofrimento — o torcedor vai precisar de desfibrilador no estádio.
🐓 Conclusão: o Galo venceu, mas não convenceu — e talvez nem precise
Em outubro de 2025, o Atlético não joga por estética, nem por tese tática.
Joga por sobrevivência.
O gol relâmpago de Alan Franco foi como um gole d’água pra quem atravessou o deserto — rápido, essencial e quase milagroso.
Agora, vem o jogo da vida.
E se há algo que o torcedor do Galo aprendeu é que esse time pode até não brilhar, mas gosta de sofrer com estilo.
Na terça, o estádio vai pulsar, o coração vai falhar, e Sampaoli — esse poeta do caos — vai tentar transformar mais 23 segundos de lucidez em 90 minutos de redenção.

