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Dudu atravessa a lagoa — e leva junto o balde d’água da rivalidade

Por Jorginho, cronista especializado em traições futebolísticas e outros espetáculos dramáticos de Minas Gerais

Em Belo Horizonte, há uma linha invisível que separa mais do que clubes: separa famílias, casamentos e churrascos de domingo. Essa linha se chama a Lagoa da Pampulha — um corpo d’água tão simbólico que já deveria ser declarado Patrimônio Nacional do Rancor Esportivo.

E foi exatamente essa lagoa que Dudu atravessou, deixando o Cruzeiro para assinar com o Atlético-MG. Não de canoa, nem de caiaque — mas de caneta, contrato assinado, rescisão no BID e, claro, um sorriso de quem sabe que jogou gasolina num barril de pólvora emocional.

Dudu não é nenhum novato nessa história. Já passou por grandes clubes, já viu torcida gritar seu nome e já foi chamado de “mercenário” na internet. Mas nada prepara o jogador — e principalmente o torcedor — para o clássico ato de “se mudar para a casa do inimigo”.

Imagine o seguinte: você termina um namoro turbulento com alguém ciumento, dramático e profundamente apaixonado (leia-se, o Cruzeiro). Aí, na semana seguinte, você aparece de mãos dadas com o ex mais odiado do seu ex (leia-se, o Galo). É pedir pra ter o carro riscado e o nome pichado no muro da Toca da Raposa.


O roteiro teve tudo: rescisão publicada no BID, contrato até 2027, anúncio oficial com camisa preta e branca, e até aquele momento de lazer burguês, com Dudu sendo liberado para “viajar com a esposa à Europa” antes de se apresentar. Porque claro, até as reações indignadas do torcedor brasileiro precisam aguardar o fuso horário de Paris.

E enquanto Dudu faz turismo afetivo no Velho Continente, o cruzeirense chora de raiva e o atleticano sorri de canto de boca, como quem acabou de contratar o primo rico do ex.


Mas, sejamos sinceros: essa troca de clubes não é sobre tática, nem sobre salário (ok, talvez um pouco). É sobre narrativa. Enredo. Drama. Porque o futebol mineiro vive de boas histórias — e não há enredo melhor do que o do jogador que muda de lado e promete “dar tudo por essa camisa”, enquanto os posts antigos com a camisa do rival ainda estão fresquinhos na memória da torcida.

Agora, o Atlético esfrega as mãos: ganhou um reforço com nome de craque, histórico de decisão e, de brinde, a chance de colocar mais uma palha na fogueira da rivalidade. Já o Cruzeiro… bem, o Cruzeiro ganhou um trauma. Mais um.


E o mais engraçado é que a diretoria azul celeste se manteve estranhamente serena. Talvez porque sabiam que, no fim das contas, no amor e no futebol, quem se foi nunca volta do mesmo jeito. O Dudu que chega ao Galo não é o mesmo que vestiu azul. Agora ele vai aprender o hino novo, se acostumar com a Cidade do Galo e, se fizer gol em clássico, vai ter que correr pra câmara do VAR, não pra torcida.


Dudu só poderá estrear na 12ª rodada do Brasileirão, contra o Bahia. Até lá, muita coisa pode acontecer: textão no Instagram, unfollow em torcedor, torcida organizada ameaçando derrubar a estátua do jogador no imaginário popular.

O importante é que ele escolheu atravessar a lagoa, e como todo mineiro sabe, uma vez do outro lado… não tem como voltar seco.

Boa sorte, Dudu. Você não trocou só de clube. Você trocou de religião. E nesse altar chamado futebol, o casamento é lindo — até o próximo clássico.