Por Jorginho
Tem gente que coleciona moedas, vinhos raros, selos e até boletos pagos – um milagre em tempos de Pix vencido. Mas existe um grupo mais… singular. Um grupo que olhou para o abismo da vida adulta, viu a conta do Nubank no vermelho, e pensou: “Sabe o que falta aqui? Um bebê de vinil com veias pintadas à mão e cílios que custam mais que uma consulta no oftalmo.”
Sim, estamos falando do universo gloriosamente absurdo dos bebês reborn – bonecos hiper-realistas criados para parecerem recém-nascidos, com direito a choro falso, fralda verdadeira e crise existencial garantida.
E antes que algum coach de empatia venha dizer “ah, mas é arte!”, eu digo: arte é fazer escultura de gelo no Saara. Isso aqui é uma simulação de maternidade em 4K emocional.
No epicentro desse colapso entre a infância e o delírio, temos influenciadoras que carregam seus bonecos pra todo lado. Levam ao shopping, ao parque, ao hospital (sim, ao hospital), e postam como se o silicone estivesse com dengue. Usam frases como “tirei o leite em casa”, como se não tivessem acabado de fazer Miojo com Toddynho no micro-ondas.
Já existe “role play” de maternidade de boneco. Com IA. Com legendas. Com música triste de fundo. A dúvida já não é mais “isso é normal?” e sim “quando a simulação vai acordar e me dar um susto no meio da madrugada?”.
A classe artística, claro, defende: “é terapêutico”, “é um hobby”, “é lúdico”. A mesma justificativa usada por adultos que ainda jogam com carrinhos Hot Wheels ou choram vendo Toy Story 3. O problema é quando a boneca passa a ter CPF emocional e o adulto começa a dar desculpa pro RH porque o “Bento” está com cólica.
A boneca não pode ficar sozinha. Ela sente falta da mãe. A mãe tem 34 anos, paga boleto da Netflix, e responde no LinkedIn como “consultora de inovação sensível com foco em maternagem de silicone”.
Tem até artesã chamada de “cegonha”, como se São Pedro tivesse terceirizado o parto para o Mercado Livre. O bebê nasce em kit: cabeça, braços, pernas… tudo separado como se fosse um Mr. Potato Head em versão cremosa.
E as clientes? Pagam mil, dois mil reais, por esse spa do transtorno emocional disfarçado de afeto. Algumas dizem que melhoraram da depressão depois de “brincar de boneca” – o que talvez diga mais sobre o SUS do que sobre a boneca.
A pergunta que fica: onde esse trem descarrilhou? Quando foi que a linha entre “brincar” e “viver uma segunda vida paralela de vinil” ficou tão borrada que hoje temos bonecas que fazem mais sucesso no TikTok que gente viva?
Eu entendo a necessidade de afeto. O vazio que o capitalismo joga no colo. Mas, minha senhora, não precisa preencher isso com um bebê que não pisca, não arrota e não te ama de volta. Aliás, se piscar, corre. É o capeta ou o firmware da IA dando bug.
A sociedade reclama: “Mas homem pode colecionar miniatura de carro e ninguém fala nada!”. É verdade. Mas também não tem homem levando um Fusquinha da Hot Wheels pra fazer endoscopia na Unimed.
Aí vem o argumento de sempre: “É só um hobby”. Mas esse hobby tá ficando competitivo. Tem gente fazendo chá revelação pra boneca. Decorando o quarto com papel de parede, berço de R$ 1.500 e uma babá eletrônica que transmite pro Instagram.
A boneca tem mais roupa que eu. Mais rotina que eu. Mais engajamento que o presidente.
Em breve, marcaremos consulta de pediatria com filtro do TikTok. Faremos cartório pra registrar o reborn e tentar colocá-lo no colégio particular, porque afinal, “ele precisa conviver com outras crianças que também não existem”.
Mas tudo bem. Se brincar de reborn for a única forma de escapar do horror que é viver no Brasil em 2025, que nasçam Eloá, Bento, Lorenzo 3.0 e a nova edição em silicone texturizado com cutículas de verdade.
Só não me peça pra dar parabéns no Instagram. Eu já tô ocupado cuidando do meu Playmobil com burnout.