samir xaud

Fair Play Financeiro no Brasil — a utopia do “só gasta quem tem”

Olha, se a CBF realmente implementar o tal Fair Play Financeiro, eu quero estar vivo para ver. Porque no Brasil, meu amigo, “só gastar o que arrecada” é praticamente ficção científica. Isso aqui é o país onde dirigente pede empréstimo para pagar empréstimo, assina contrato de atacante que ganha salário europeu e depois parcela o bicho em 24 vezes sem juros no carnê da Casas Bahia.

A proposta é linda no papel: clubes só gastam o que arrecadam, nada de doping financeiro, nada de “time com dívida de 1 bilhão contratando estrela de 30 milhões de euros”. Mas, convenhamos, se essa regra existisse antes, metade dos clubes grandes do Brasil estaria hoje disputando o Campeonato Rural de Várzea e Quitanda, porque não sobrava elenco nem para treino coletivo.

E as punições? Perda de pontos, transfer ban, multa… ah, eu consigo até imaginar:
– Clube devendo até o ar condicionado da sala de imprensa: “perda de 6 pontos”.
– Clube que não paga salário há 4 meses: “transfer ban”.
– Clube que deve R$ 800 milhões mas anuncia contratação bomba no aeroporto: multa simbólica de R$ 50 mil e um puxão de orelha da CBF.

Porque no Brasil, punição nunca é punição de verdade. É só um “olha, hein, da próxima vez eu fico bravo”.

O mais curioso é que os clubes estão aceitando a ideia com pouca resistência. Claro que aceitam! Eles sabem que, no fim, sempre dá para inventar um “refis do futebol”, uma renegociação, um jeitinho tributário, ou aquele famoso “calote técnico” que transforma dívida em patrimônio imaterial.

Fair Play Financeiro no Brasil é quase como acreditar em Papai Noel ou VAR justo: parece bonito, até faz sentido… mas ninguém com mais de 12 anos acredita de verdade.

A real é que, se realmente aplicarem esse negócio a sério, metade dos times que hoje contratam estrelas vai ter que voltar para a base. E aí, quem sabe, a gente descobre se o futebol brasileiro consegue sobreviver sem mágica de balanço contábil e sem cheque sem fundo.

Spoiler: não consegue.